terça-feira, 28 de outubro de 2008

hello my love -margarida rebelo pinto

Sabes, há muito tempo que me ando a questionar sobre o que pode ser a verdadeira essência do amor. E não falo de pais, filhos, irmãos e amigos, que a esses mal ou bem vamos sabendo dar e receber afectos com mais ou menos traumas e conflitos. Falo da outra espécie de amor, daquela que nos pode ligar, ou não, para sempre a uma pessoa, que é ao mesmo tempo outra e nós, sem nunca deixar de ser ambas as coisas.
(...)
Às vezes acho que a ficção e a poesia é que deram cabo disto tudo, meteram-nos na cabeça, a nós, pseudo intelectuais com aspirações a iluminados que o amor tem que ser feito de sofrimento, ausência, tristeza e abnegação e que a alma humana só se engrandece com a renúncia da felicidade.Vivi assim muitos anos, viciada na tristeza e nas ausências, habituada a esperar por nada. Primeiro foi o Luís que me conquistou numa noite de lua cheia em S. Pedro do Sul. Esperei um ano inteiro até ao Verão seguinte e quando o voltei a ver percebi que nem se lembrava de mim. Depois foi o António no primeiro ano da faculdade em Coimbra, que me escrevia versos do David-Mourão Ferreira no vapor do espelho da casa de banho antes de sairmos para as aulas. E quando ele partiu para Itália com uma bolsa e o perdi para sempre, ainda demorei um semestre a habituar-me à ideia. Mas os erros servem para criar hábitos e o vazio também enche a alma, por isso pensei que a minha vida ia ser isto mesmo amar, esperar, esquecer e começar tudo de novo outra e outra e outra vez.
(...)
Já foi há dois anos, mas a leveza que me trouxeste aos dias e a doçura com que fizeste o tempo passar ensinaram-me a viver a vida como tu, aceitando cada dia como o último, ou o primeiro, ou tanto faz e se calhar é por isso que quando me desdobro em interpretações sobre As Flores do Mal e outras loucuras que os poetas tristes escreveram sobre o amor, abano a cabeça sem a mexer e me imagino a voltar a casa, com o teu olhar a estender-me os braços e o teu sorriso a aquecer-me a alma, enquanto dizes no teu inglês bem arranhado - sempre ouvi dizer que os holandeses têm mesmo jeito para línguas
– hello my love.

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